Quatro pontos da obra da Travessia Urbana têm sinalização ineficiente à noite

As obras da Travessia Urbana de Santa Maria, que contemplam a duplicação de quase 15 quilômetros de trechos das BRs 158 e 287, são, de longe, uma das maiores intervenções no cenário da mobilidade da história recente do município. O saldo, ao fim dos trabalhos, será de um ganho inegável para toda a região.

Iniciada em dezembro de 2014, tinha previsão de conclusão em 2017. O prazo foi dilatado para 2020 em decorrência de uma série de fatores (a maioria associado ao momento econômico do país): atraso na liberação de recursos e, ainda, dinheiro, em quantia insuficiente para dar celeridade aos trabalhos. Mas tudo isso passa à margem de um problema (recorrente) e que tem preocupado motoristas e pedestres: a iluminação que, por vezes, mostra-se inexistente ou insuficiente ao longo de 14,5 km de obras.

Se já é complicado para quem é de Santa Maria ou da região e está familiarizado com as obras, fica ainda mais difícil para quem está de "chegada" ou "de passagem" por aqui. Foi o que aconteceu no último dia 16. Há uma semana, um acidente de trânsito vitimou um homem de 39 anos na BR-287. Após perder o controle do carro que dirigia, um Ford Fusion, André Gomes da Silva invadiu o viaduto de acesso ao Bairro Tancredo Neves, que está em obras. O carro trafegava no sentido Santa Maria-São Pedro do Sul e avançou sobre os cavaletes que impedem o acesso ao viaduto, bateu numa mureta de concreto e caiu. Tudo isso em um trajeto de cerca de 300 metros. Silva era natural de Alegrete.

TESTE DA SINALIZAÇÃO
A reportagem do Diário percorreu os trechos da obras da Travessia Urbana na noite de quarta-feira e na tarde de ontem para conferir a sinalização. Além de a iluminação ser deficitária, também causa apreensão aos motoristas outra situação: a pouca sinalização horizontal (como placas de "pare" e de alerta para as obras).

Iluminação deficiente à noite
À noite, a reportagem percorreu os trechos em obras e constatou, ao menos, quatro trechos em que são duas as possibilidades de se ter um feixe de luz: a dos próprios veículos ou a da lua (o que fica prejudicado em noites de chuva). Esses quatro pontos são:

• BR-287: bairro Tancredo Neves até a frente das obras da nova ponte do Arroio Taquara. Nesse trecho, a escuridão dá uma ligeira trégua com as luzes do campus da Ulbra, no acesso ao distrito de Boca do Monte
• BRs-287 e 392: trevo da Uglione até um pouco mais adiante da passarela da Urlândia
• BR-158: trecho entre o viaduto do Cerrito e o trevo de acesso à Avenida Fernando Ferrari (foto abaixo)
  
  
• BR-287: junto ao trevo que dá acesso ao Bairro Santa Marta. Dali em diante, o cenário fica praticamente inviável (foto abaixo)

Iluminação boa à noite
Há dois trechos onde a iluminação se faz presente

• BR-158: junto ao acesso à Avenida Fernando Ferrari, até o Trevo da Uglione. Ao longo desse trajeto, onde há pistas duplicadas em ambos os sentidos, os postes de luz dão condições de visibilidade e relativa segurança para quem passa à noite.
• BR-158: para quem cruza em frente ao shopping Praça Nova, em um trecho de cerca de 500 metros, também há iluminação.

DE DIA, SINALIZAÇÃO DAS OBRAS É BOA...BR-287: sinalização indica bloqueio em viaduto da Tancredo Neves

BR-158: postes de luz e placas no trecho duplicado do Cerrito

BR-158: viaduto já liberado e sinalizado em frente ao Praça Nova

PREVENÇÃO DE ACIDENTES
O engenheiro civil e doutor em Transportes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano é enfático ao dizer que os estudos, na área, apontam que as causas para um acidente de trânsito nunca se limitam a um fator isolado. Em estradas que passam por intervenção, como é o caso da Travessia Urbana, o especialista destaca a necessidade de se colocar placas junto às interseções modificadas:

- A colocação das placas é justamente com o intuito de alertar aquelas pessoas que habitualmente não passam por ali.

O engenheiro ressalva que a falta de iluminação "é um adicional potencializador" para um acidente. Dentro disso, é preciso observar a existência de placas prioritariamente nos trechos onde há estreitamento da pista ou intervenções (como mudanças de sentido).

- Em geral, nas chamadas travessias, há sinalização. É importante dizer que, junto às interseções modificadas, é preciso, por exemplo, ter uma placa de alerta que fique visível, independentemente de ser dia ou noite. Esse é o propósito. Ou seja, evitar que o motorista seja surpreendido - afirma.

Albano diz que estudos técnicos na área apontam que, embora apenas uma pequena parcela de um sistema de rodovias seja ocupada por interseções, são nelas que se dão mais de 50% do total de acidentes:

- É notório e sabedor que aquelas rodovias ocupadas por interseções, onde se cruzam duas ou mais estradas, há um potencial maior de se ter um problema. São nas interseções, por exemplo, que os motoristas precisam tomar decisões cruciais: qual rota seguir, que manobra fazer e, tudo isso, às vezes, em um curto espaço de tempo. Aí, é óbvio que, se não há uma sinalização mínima, as chances de acidente aumentam - observa Albano.

ATENÇÃO
Porém, o especialista ressalva que os motoristas precisam, também, saber que as rodovias são, em geral, escuras. Exceto em trechos urbanos, onde há circulação maior de veículos e de pedestres:

- A iluminação é claro que é importante. Mas ela é um adicional em uma estrada. Até porque a iluminação, e não estamos falando em trechos que passam por obras, deve se fazer presente junto aos trechos urbanos. Por motivos óbvios: a segurança dos pedestres e por se ter uma circulação maior de veículos, também. Em tese, nas estradas, há a luz dos próprios veículos.

O QUE DIZ O DNIT
"A iluminação da Travessia Urbana está sendo implantada de forma gradual. Hoje, o trecho entre o Castelinho e a Uglione já tem quase 80% da sua iluminação em funcionamento. Em alguns pontos onde não há iluminação, é devido ao furto dos cabos registrado no final do mês passado. À medida que a obra avança, novas frentes de iluminação entrarão em funcionamento. Existem locais de obras que não contam com iluminação devido à inexistência de rede próxima. O Dnit salienta que não tem competência sobre iluminação pública, e que todos os projetos devem ser tratados no âmbito municipal, mas, sempre que possível, adota medidas para minimizar o impacto junto à população.

A sinalização do trecho é avaliada diariamente. Além disso, o Dnit mantém diálogo permanente com a Polícia Rodoviária Federal com a finalidade de definir estratégias de atuação para melhorar as condições de segurança de tráfego. É importante ressaltar que todo o trecho urbano das rodovias federais está em obras e está operando com indicação máxima de velocidade de 50 km/h. É necessário paciência e atenção por parte dos usuários da rodovia. Além disso, é necessário que a comunidade colabore com o projeto, respeitando a sinalização e denunciando eventuais danos e furtos de cabos.

No acesso à Tancredo Neves, a sinalização foi reforçada com sinais luminosos piscantes, porém, há registros de furtos e de vandalismo na sinalização. O Dnit deve intensificar os trabalhos para dar início à construção da rótula alongada que dará acesso ao bairro e ao Distrito Industrial. O telefone da ouvidoria do Dnit para comunidade relatar sua dúvidas é (55) 3217-4531, que funciona em horário comercial, de segunda a sexta-feira, e recebe, inclusive, ligações a cobrar".

O PROJETO RODOVIÁRIO

• Iniciada em 2014, a obra tinha previsão de entrega para 2017. Agora, a previsão é 2020
• Compreende duplicação de 14,5 km de trechos das BRs 158 e 287
• Até o momento, mais de 70% dos serviços foram executados. Emprega 115 trabalhadores
• Orçada em R$ 309 milhões, já recebeu até agora R$ 215 milhões
• Previsão, para este ano, de um aporte de mais R$ 107 milhões
• Em 2020, devem ser investidos R$ 40 milhões no fim das obras